terça-feira, 11 de julho de 2017

O Lago Verde - Parte 4




   À medida que caminhava o temor gradualmente ia ficando para trás, mesmo que em meio àquela caminhada o menino também observava formas estranhas e sinistras ao seu redor. Esses contornos medonhos insistiam em distraí-lo, em tirá-lo de seu rumo — Não vá meu rapaz, lá não existe nada para você! — É uma perda de tempo! — Concluia a estranha figura.

   Indiferente às tentativas de convencê-lo a mudar de ideia, Marcos, continuava em frente, a passos firmes. Quanto mais se aproximava daquela luz, maior era sua alegria. Receios e inseguranças cediam espaços a uma coragem repentina e surpreendente.

   Embora a dor em seu braço persistisse, sentimentos de bem-estar passavam a reinar em sua consciência, por todo o corpo. A sensação era de que nada e ninguém o impediria de chegar até a claridade.

   Diante da determinação do garoto, as figuras horrendas o insultam duramente. Provocações variadas tinham como alvo roubar a admiração daquele jovem pela luminosidade tão magnífica, tão sublime.

   — Deixe de ser teimoso seu maldito, o que você quer encontrar nessa luz? — Não há nada de especial te esperando! — Arrematou o ser sinistro.

   Desta maneira, os xingamentos prosseguiam numa verdadeira saraivada vinda de todos os lados. Não demorou muito para que os insultos se transformassem em acusações de todos os tipos. 

   Com o aumento das agressões, os seres, cheios de ódio, tornavam-se ainda mais macabros e monstruosos. Além disso, a persistência de Marcos acirrava a irritação das criaturas ao limite, a ponto delas ficarem com os olhos tão avermelhados como se fossem pares de labaredas de fogo.

   Quando o clarão estava bem perto, um desses seres disse ao rapaz:

   — Ainda vou te pegar um dia!

   Marcos o fitou sem se intimidar diante da ameaça. Em seguida, fechou os olhos num momento de introspecção, permanecendo nesse estado por alguns segundos. Ao retornar da breve meditação todos aqueles seres maléficos haviam desaparecido. Agora o que tinha à sua frente era o brilho esplendoroso que o envolvia em um todo perfeito.

   Chegando ao local, o jovem atravessa lentamente o fulgor intenso. Aos poucos, o ambiente se convertia em uma brancura inimaginável, transmitindo uma paz profunda e consoladora. Associado a isso, o garoto experimenta uma força que o percorria da cabeça aos pés, assemelhando-se a uma corrente elétrica a qual, fazia-o estremecer por completo.

   Inteiramente extasiado, Marcos não cabia em si de tanta felicidade, mal podia crer no que estava ocorrendo. Enquanto permanecia mergulhado no êxtase ele avista uma jovem mulher vindo em sua direção, conforme ela se aproximava, mais o local se modificava. Um mundo de belezas indescritíveis se vislumbra aos seus olhos.

   Algum tempo depois, finalmente a moça se pôs à frente de Marcos e disse:

   — Venha meu jovem, contemplarás maravilhas! — Ele por um instante hesitou! — Vendo sua hesitação a jovem mansamente e com um sorriso no rosto afirmou: — Não tenhas medo, nenhum mal o atingirá neste lugar!

quinta-feira, 18 de maio de 2017

O Lago Verde - Parte 3

 


   O esposo de prontidão rebateu:

   - Fique tranquila minha querida, ele mesmo fez questão de vir! - Nosso filho irá se distrair e curtir as férias com os irmãos! - Mas para te deixar mais calma vamos pernoitar em uma pousada que se localiza nesse mesmo lugar!

   Passado o diálogo não tardaram em avistar a hospedaria, juntamente a ela o posto de gasolina. Sem demora o automóvel foi estacionado com o intuito de abastecê-lo. A família já se encontrando cansada pela desgastante viagem, encaminha-se à pousada.

   - Meu filho, acorda!

   Obedecendo a ordem de sua mãe, Marcos desperta do sono, só que para sua surpresa não era ela. Ele espiou em todos os lados, ninguém por perto, nenhuma alma viva. De repente notou-se no meio do nada, abandonado na estrada, a única lembrança é o carro ali parado.

   - O que está acontecendo? - Perguntou o rapaz a si mesmo.

   Depois de algum tempo chamando pelos seus pais e irmãos, a agonia avançava pela falta de resposta. Vendo-se perdido, o garoto sentia o desespero bater à sua porta. Considerando sua pouca idade era um fardo muito pesado de suportar.

   - Socorro! - Alguém me ajude! - Gritou o jovem!

   O que se seguiu foi um silêncio aterrador. Contudo, neste ínterim, Marcos vislumbra um clarão, uma grande luz branca resplandecendo no meio de toda a escuridão. Imediatamente a atração foi maior que o medo como um inseto hipnotizado por uma lâmpada. Os primeiros passos em direção à claridade foram lentos, inseguros, cercados de dúvidas. Indecisões, às quais, convertidas em fascínio, tamanho a grandeza desse brilho.

terça-feira, 16 de maio de 2017

O Lago Verde - Parte 2

   

   E a viagem prosseguia, todavia, nesta ocasião, o percurso seria muito mais longo. Um dia e uma noite seriam precisos a fim de chegarem ao ponto de destino. Independente do cansaço, os viajantes encontram disposição de permanecerem acordados, os mínimos detalhes eram registrados pelos ocupantes daquele carro.

   No instante em que a noite finalmente se fez presente, trouxe também a lua e as estrelas. O céu limpo, sem nuvens, colabora fielmente com toda essa beleza encantadora. No entanto, mais uma vez, Marcos não se encontrava no mesmo contexto de sua família. O menino após ingerir o remédio, adormecera no banco de trás.

   Vendo seu filho adormecido e com fisionomia sofrida, a mãe zelosa estende seus braços com a intenção de ajeitá-lo melhor. Por mais que todos os cuidados fossem providenciados, o prolongado passeio maltratava o pobre braço.

   - Marido, temos que parar um pouco para esticar as pernas! - Disse a esposa.

   - Logo à frente há um local de parada! - Respondeu o homem. E continuando disse:

   - Temos que abastecer de qualquer forma, vamos aproveitar e jantar em seguida! Respondeu prontamente.

   A mulher retomando a fala completou:

   - Estou um pouco aflita com o nosso filho! - Talvez não devíamos ter feito essa viagem, está sendo um sacrifício para ele! - Falou a mãe apreensiva.

Primeiro Milagre de Santa Teresinha na Madeira no dia de sua morte

          Ao cair da tarde do dia 30 de Setembro de 1897, a florzinha branca do Carmelo escuta a Voz do Senhor da Vida e da Morte, pronto a “romper a teia deste doce encon­tro”, na expressão feliz da poesia mística de S. João da Cruz, em Chama viva de Amor.
          Perto da janela da enfermaria, o canto alegre e pertinente de um passarinho aumenta a tristeza das Irmãs Martin, também carmelitas, que velam junto do benjamim da família – a Ir. Teresinha do Meni­no Jesus e da Santa Face. No limi­ar da eternidade, lança à sua prioresa, Madre Gonzaga, um derradeiro olhar, humilde e supli­cante: “Apresente-me depressa à Santíssima Virgem, eu sou um bebé que não pode mais!... Prepare-me para morrer bem...” (Últi­mos Conselhos e Recordações). No meio de indizíveis sofrimentos físi­cos e espirituais, irrompe dos seus lábios moribundos um grito de amor: “Não me arrependo de me ter entregue ao Amor. Meu Deus, eu amo-Vos. Oh! Amo-Vos!” (Caderno Amarelo).
          Pouco depois, com o rosto trans­figurado e iluminado por inexplicá­vel luz celeste, falecia santamente. Tinha 24 anos de idade e nove de vida consagrada na Ordem de Nos­sa Senhora do Carmo.
          O seu belo sorriso e a novidade da espiritualidade da infância, nar­rada na sua autobiografia – Histó­ria de uma Alma – depressa con­quistaram o mundo. Mas, em 1897, era ainda muito pouco conhecida fora dos muros do seu Carmelo.

A força da oração, uma chuva de rosas
 
         Decorria o ano de 1897. A Irmã Virgínia da Paixão, a humilde reli­giosa clarissa do Mosteiro de Nos­sa Senhora das Mercês no Funchal, encontrava-se gravemente doente, devido a uma queda nas escadas. Esta enfermidade fazia-a sofrer imenso, não só pelas dores físicas, mas pela relutância que experimen­tava em deixar-se examinar pelo médico. Com a força das dores não conseguia conciliar o sono. Na noi­te de 30 de Setembro, sentindo au­mentar os sofrimentos, pediu ao Senhor que a curasse por interces­são da primeira alma que entrasse naquele momento no Paraíso. A resposta do céu não se fez esperar. Narra-nos a Madre Virgínia nos seus escritos: “Senti uma mão invi­sível que me tocava e vi junto do meu leito uma religiosa vestida de hábito pardo, manto branco e véu preto na cabeça. Conheci que não era a nossa enfermeira. Era manhã, mas ainda fazia escuro, e reconhe­ci à luz bruxuleante da lâmpada, que era uma religiosa nova e muito formosa. Referiu que Jesus, respon­dendo à minha súplica, a tinha en­viado para lhe dizer ser Sua vonta­de me submetesse ao exame clínico prescrito e me deixasse tratar. Ela seria a minha fiel enfermeira. Perguntei-lhe quem era. Por fim, sor­riu e disse: eu sou uma religiosa carmelita, chamada Teresa do Me­nino Jesus e da Santa Face, que acabo a vida mortal e entro já no Paraíso. Recomendou-me segredo até ao tempo que aprouvesse ao di­vino Senhor revelar (o milagre) e desapareceu” (Apontamento Bio­gráfico do Padre João Prudêncio da Costa).
          A Madre Virgínia relata que o médico fez a intervenção cirúrgica conveniente e que Santa Teresinha do Menino Jesus foi a sua fiel e de­dicada enfermeira, tirando-lhe to­das as dores. “Fiquei perfeitamente boa. Fui curada milagrosamente. Isto deu-se no dia 30 de Setembro para 1 de Outubro de 1897. No dia 4, festa do meu Pai S. Francisco, já pude tomar parte nas funções da comunidade”. Clinicamente era inexplicável como em tão pouco tempo se realizou a prodigiosa cu­ra. Mistérios de Deus: nesse mes­mo dia, em Lisieux, realizava-se o funeral de Santa Teresinha do Me­nino Jesus e da Santa Face.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Santa Teresinha apareceu em Portugal

Santa Teresinha apareceu em Portugal
          Na tarde do dia 30 de Setem­bro 1897 faleceu no Carmelo de Lisieux na França, Santa Tere­sinha do Menino Jesus. Nessa mesma hora e dia desceu ela a Portugal, à cidade do Funchal, na Ilha da Madeira.
          Vivia ali uma religiosa capuchinha chamada Virgínia da Pai­xão, falecida há anos, com fama de santidade, a qual padecia de grave doença no peito. O seu profundo pudor e delicadeza de consciência traziam-lhe o cora­ção inquieto e hesitante: devia ou não permitir que os médicos a descobrissem e operassem? Voltando-se para Deus disse:
          – Senhor, a alma que hoje en­trar no Céu, mandai-ma para me tirar de tão aflitiva indecisão.
          Uma jovem freira sorridente, com hábito de carmelita, apareceu-lhe nessa tarde de 30 de Se­tembro e aconselhou-a a submeter-se à operação.o sur­preendente, voltou a aparecer-lhe e fez-lhe com tal delicadeza e perfeição o penso que o médi­co ficou espantado. Mais admi­rado ainda ficou com a rapidez da cicatrização.
          A Madre Virgínia pergunta-va-se a si própria: – Que misté­rio é este? As religiosas carme­litas não saem do convento, nem são enfermeiras. Quem se­ria aquela que me veio aconse­lhar e tratar?
          Passados anos chega ao Fun­chal um retrato autêntico de Santa Teresinha. A Madre Vir­gínia olha-a, fixa-a e exclama:
          – Foi esta Irmã que me apa­receu e me curou.
          Santa Teresinha, “a maior Santa dos tempos modernos”, – como dizia o Papa Pio XI – logo que faleceu deu-se pressa em descer a Portugal, cumprin­do o que prometeu pouco antes da morte: “– Quero passar o meu Céu a fazer bem na terra. Farei descer do Céu uma chuva de rosas. Sinto que vai princi­piar a minha missão, a missão que tenho de fazer amar a Deus como eu O amo”.
Fonte: revista Cruzada, Junho 1989, p. 183.


terça-feira, 2 de maio de 2017

A Primeira Rosa de Santa Teresinha




A PRIMEIRA ROSA DE SANTA TERESINHA
A CELESTE SEMEADORA DE ROSAS
desceu à Ilha da Madeira, no próprio dia da sua morte

          Enquanto um coro possante de vozes, no cinquentenário da morte de Santa Teresinha, invocava e aclamava, em Lisboa, a Padroeira de Portugal Missionário, a evocação da sua morte, trazia-nos à lembrança um episódio enternecedor da sua legenda maravilhosa, demonstrativo da sua predileção pela terra querida de Portugal, para o exercício da sua missão providencial.
          Na noite do próprio dia em que, há 50 anos, se finara, no Mos­teiro do Carmelo, Teresinha desceu, decerto pela primeira vez depois da morte, à terra abençoada de Portugal. Ao apelo da Madre Vir­gínia da Paixão, das Capuchinhas de Nossa Senhora das Mercês, do Funchal, desceu a Santinha à terra florida da Madeira, açafate de rosas, embalado pela vagas rendilhadas de espuma do Atlântico.
          Esta religiosa, falecida, no Funchal, há anos, em odor de santidade, padecia de gravíssima moléstia no peito. A delicadeza da sua cons­ciência, num requinte de pudor, trazia-lhe o coração inquieto e hesi­tante em se submeter à inspeção dos médicos. No dia 30 de Setembro de 1897, voltando-se para Deus, disse: – Senhor, a alma, que hoje entrar no Céu, mandai-ma, para me tirar de tão aflitiva indecisão.
          Uma freira sorridente, com hábito de carmelita, apareceu-lhe, então, na noite do memorável dia 30, e aconselhou-a a submeter-se à operação. Feita a operação, com êxito surpreendente, voltou a aparecer-lhe a risonha carmelita e fez-lhe o penso, com tal perícia, que o médico ficou pasmado, ao tirá-lo, quando verificou a rapidez da cica­trização e a perfeição do penso, inverosímil em mãos humanas.
          Só ao cabo de alguns anos, conseguiu apurar o nome e identidade desta carmelita, tão singular por andar fora da clausura, em serviço de enfermeira e taumaturga. Passados anos, em face de retrato autêntico, com o nome e data da morte de Soror Teresa do Menino Jesus, acabado de chegar ao Funchal, reconheceu a piedosa capuchinha, deliciosamente surpreendida, que a carmelita incógnita, que lhe servira de enfermeira, com mão delicada a curara e lhe aparecera, pela primeira vez, em 30 de Setembro de 1897, tinha sido a própria Santa Teresinha que, pouco depois de voar ao Céu, se deu pressa a descer à terra sagrada de Portugal, para iniciar a sua missão de bem-fazer, desfolhando, sobre a capuchinha padecente, as perfumadas rosas do milagre.
          No quinquagésimo aniversário da sua entrada triunfal no Céu e da sua descida maravilhosa à terra lusitana, bem merecia, pois, a gentilíssima Santinha que, em Lisboa, cabeça do Império, solar prin­cipesco de missionários e navegadores, berço de heróis e santos, se levantasse, sob as abóbadas do grandioso templo das Mercês, o con­certo imponente de louvores, o coral vibrante de aclamações com que se fechou, em Portugal, o ciclo das festas do Ano Jubilar Teresiano.  
Fonte: revista Rosas de Santa Teresinha, 1947, p. 8.
(Publicação dirigida pelo Pe. Marques Soares) 

segunda-feira, 1 de maio de 2017

O Lago Verde - Parte 1







       Final de tarde. Antes de a noite dar o ar de sua graça, os últimos raios de sol reluzem sobre o asfalto anunciando o anoitecer que se aproxima. A longa estrada rodeada de uma grande mata destaca ainda mais o pôr-do-sol em meio àquela natureza deslumbrante. 

    Contrastando com esse cenário, um automóvel solitário percorre o trajeto de modo dominante. No interior desse veículo, uma família desfruta de momentos de descontração, além das férias que estava apenas começando para aquelas pessoas. Conversas dos mais variados assuntos colaboram para que a interação entre os familiares atinja um alto grau de intimidade. 

       Todos estavam tomados de uma grande alegria, bem como se maravilhavam com o ambiente ao redor. Porém, apesar de toda a harmonia, havia um que destoava dos demais, Marcos. Um adolescente de quinze anos de idade, estudioso, de temperamento introspectivo e, por essa razão, de poucos amigos. 

       Mas, desta vez, o garoto até se dava ao direito de se reservar a esse comportamento, um dos seus braços sofrera uma grave fratura exposta e, a partir daí, o sofrimento se tornou uma constante em sua vida. Apesar de a cirurgia ter sido um sucesso, algum tempo ainda seria preciso para se ter certeza de que nenhuma sequela fosse adquirida.

       — Filho, está na hora do seu remédio! — Avisa a mãe cuidadosa!

      Naquele momento do dia o analgésico não deixava de ser administrado a fim de amenizar uma dor à qual teimava em incomodar o menino. De imediato, o medicamento foi ingerido trazendo conforto ao braço fraturado.