Ao cair da tarde do dia 30 de Setembro de 1897, a florzinha branca do Carmelo escuta a Voz do Senhor da Vida e da Morte, pronto a “romper a teia deste doce encontro”, na expressão feliz da poesia mística de S. João da Cruz, em Chama viva de Amor.
Perto da janela da enfermaria, o canto alegre e pertinente de um passarinho aumenta a tristeza das Irmãs Martin, também carmelitas, que velam junto do benjamim da família – a Ir. Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face. No limiar da eternidade, lança à sua prioresa, Madre Gonzaga, um derradeiro olhar, humilde e suplicante: “Apresente-me depressa à Santíssima Virgem, eu sou um bebé que não pode mais!... Prepare-me para morrer bem...” (Últimos Conselhos e Recordações). No meio de indizíveis sofrimentos físicos e espirituais, irrompe dos seus lábios moribundos um grito de amor: “Não me arrependo de me ter entregue ao Amor. Meu Deus, eu amo-Vos. Oh! Amo-Vos!” (Caderno Amarelo).
Pouco depois, com o rosto transfigurado e iluminado por inexplicável luz celeste, falecia santamente. Tinha 24 anos de idade e nove de vida consagrada na Ordem de Nossa Senhora do Carmo.
O seu belo sorriso e a novidade da espiritualidade da infância, narrada na sua autobiografia – História de uma Alma – depressa conquistaram o mundo. Mas, em 1897, era ainda muito pouco conhecida fora dos muros do seu Carmelo.
A força da oração, uma chuva de rosas
Decorria o ano de 1897. A Irmã Virgínia da Paixão, a humilde religiosa clarissa do Mosteiro de Nossa Senhora das Mercês no Funchal, encontrava-se gravemente doente, devido a uma queda nas escadas. Esta enfermidade fazia-a sofrer imenso, não só pelas dores físicas, mas pela relutância que experimentava em deixar-se examinar pelo médico. Com a força das dores não conseguia conciliar o sono. Na noite de 30 de Setembro, sentindo aumentar os sofrimentos, pediu ao Senhor que a curasse por intercessão da primeira alma que entrasse naquele momento no Paraíso. A resposta do céu não se fez esperar. Narra-nos a Madre Virgínia nos seus escritos: “Senti uma mão invisível que me tocava e vi junto do meu leito uma religiosa vestida de hábito pardo, manto branco e véu preto na cabeça. Conheci que não era a nossa enfermeira. Era manhã, mas ainda fazia escuro, e reconheci à luz bruxuleante da lâmpada, que era uma religiosa nova e muito formosa. Referiu que Jesus, respondendo à minha súplica, a tinha enviado para lhe dizer ser Sua vontade me submetesse ao exame clínico prescrito e me deixasse tratar. Ela seria a minha fiel enfermeira. Perguntei-lhe quem era. Por fim, sorriu e disse: eu sou uma religiosa carmelita, chamada Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, que acabo a vida mortal e entro já no Paraíso. Recomendou-me segredo até ao tempo que aprouvesse ao divino Senhor revelar (o milagre) e desapareceu” (Apontamento Biográfico do Padre João Prudêncio da Costa).
A Madre Virgínia relata que o médico fez a intervenção cirúrgica conveniente e que Santa Teresinha do Menino Jesus foi a sua fiel e dedicada enfermeira, tirando-lhe todas as dores. “Fiquei perfeitamente boa. Fui curada milagrosamente. Isto deu-se no dia 30 de Setembro para 1 de Outubro de 1897. No dia 4, festa do meu Pai S. Francisco, já pude tomar parte nas funções da comunidade”. Clinicamente era inexplicável como em tão pouco tempo se realizou a prodigiosa cura. Mistérios de Deus: nesse mesmo dia, em Lisieux, realizava-se o funeral de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face.